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terça-feira, 29 de maio de 2012

OS HOSPITAIS MEDIEVAIS DE LISBOA - - Hospital de S. Paulo, S. Clemente e Santo Elói e Mercearia de D. Domingos Jardo

           Em Agosto de 1284, concedeu El-Rei D Diniz um privilégio ao Chanceler e bispo de Lisboa, Domingos Eanes Jardo, para que fizesse um hospital nas casas que este possuía no actual Largo dos Loios, na freguesia de S. Bartolomeu, contigua à freguesia de Santa Cruz da Alcáçova; para tal, tinha D. Domingos Jardo comprado ao próprio rei várias propriedades por novecentos marcos de prata lavrados, de modo a constituírem as rendas para o suporte económico do hospital.[1]
       Dois anos depois, em 1286, concedia o rei D. Diniz o padroado da igreja de S. Bartolomeu ao mesmo hospital; na época, possuía o hospital uma capela de invocação de Senhora do Vale e era gerido por doze capelães (ou dez, segundo diversas versões encontradas). 

           Por morte de D. Domingos Jardo, em 1293, foi o hospital entregue aos monges de S. Bernardo, de Alcobaça, que aí permaneceram durante 23 anos,[2] ao fim dos quais o hospital voltou a ter administração como havia sido determinado pelo seu instituidor.
A Mercearia destinava-se inicialmente a 20 merceeiros, 6 estudantes e 15 meninos de escola, sendo este hospital de 20 camas um dos mais importantes de Lisboa.
Em 24 de Abril de 1442, não tendo a administração cumprido os seus deveres, decidiu o infante D. Pedro, regente do seu sobrinho el-Rei D. Afonso V, entregá-la aos cónegos seculares da congregação de S. João Envagelista – os Lóios.[3],[4] - oriundos de Vilar de Frades, diocese de Braga. Quando o hospital se incorporou nesta congregação, ficou associado um colégio, no local ocupado pelo convento de Santo Elói; a capela ou igreja, que albergava o túmulo de D. Domingos Jardo foi mantida, embora modificada após a morte de D. Catarina, filha de D. Duarte, para albergar igualmente a sua sepultura; também aí assistiria à missa a rainha D. Leonor, mulher de D. João II, que habitava em casas junto do convento de Santo Elói, para as quais tinha acesso directo por um passadiço.
Em 1552, as rendas mensais das merceeiras seriam, para cada uma, “quatro alqueires de trigo e cento e trinta reis para conduto, e dois almudes de vinho e uma canada de azeite”.[5]
No Século XVII, encontrando-se a igreja muito arruinada, foi esta demolida para se construir uma outra, parcialmente destruída no terramoto de 1755, tendo sido perdido o rasto ao túmulo da infanta D. Catarina neste desastre. Não encontrei notícia de data do término da função do hospital, sabendo-se porém que o edifício foi afectado nos terramotos de 1531 e 1755, neste último tendo ardido a botica (estaria esta ainda ao serviço do hospital ou apenas apoiando o convento?).[6]
           Em 1834 foram extintas as ordens religiosas e o convento abandonado pelos frades e ocupado pela Guarda Municipal de Lisboa. Em 1883, foi encontrado no meio do entulho de uma escavação no então quartel da Guarda Municipal, o túmulo de D. Catarina, que ficou servindo como lavadouro das praças da Guarda, tendo finalmente sido removido para o Museu do Carmo em 1926. O convento de Santo Elói, muito modificado, encontra-se actualmente ocupado por um Regimento de Infantaria.



[1] Cristóvão Rodrigues de Oliveira, Lisboa em 1551 - Sumário (em que brevemente se contêm algumas coisas assim eclesiásticas como seculares que há na cidade de Lisboa), Livros Horizonte, 1987, p. 69
[2] Carlos Guardado da Silva, Lisboa Medieval – a organização a e estruturação do espaço urbano, Lisboa, Edições Colibri, 2008, p. 243 - 345
[3] Fernando da Silva Correia, Os Velhos Hospitais da Lisboa Antiga, Revista Municipal nº 10, Câmara Municipal de Lisboa, 1941, p. 11 - 12
[4] Júlio de Castilho, Lisboa Antiga – Bairros Orientais, 2ª ed., vol. XI, Câmara Municipal de Lisboa, 1938, p. 235
[5] João Brandão (de Buarcos), Grandeza e abastança de Lisboa em 1552, Livros Horizonte, 1990, p. 135
[6] Júlio de Castilho, Lisboa Antiga – Bairros Orientais, 2ª ed., vol. XI, Câmara Municipal de Lisboa, 1938, p. 236 - 248

sexta-feira, 25 de maio de 2012

OS HOSPITAIS MEDIEVAIS DE LISBOA - Hospital do Santo Espírito ou do Espírito Santo da Pedreira ou Capela de Dom Adão


Situava-se no local da Pedreira de Lisboa (actualmente Rua Nova do Almada), tendo 10 camas para 10 merceeiras.[1]
Sabe-se que a casa do Santo Espírito já existia em 1279,[2] desconhecendo-se se o hospital seria da mesma época; certa é a sua existência em 1367, confirmada por um documento de emprazamento feito pela Confraria dos Clérigos Ricos a Afonso Esteves e sua mulher de umas casas, “à Pedreira, a par do Hospital do Santo Sp’rito”.[3]
Está referido por volta de 1551: “A igreja do santo Espírito da pedreira está na freguesia de são Gião e são Nicolau. (...) foi fundada antigamente por dom Adão e dona Sancha (...) Há mais dez merceeiras, que têm seu aposento dentro na casa; tem cada uma cada mês cem reis, e todas as esmolas que vêm à casa, que valerão por ano cento e sessenta e cinco cruzados.[4]
Em 1552 é o hospital descrito como: “Um forasteiro fidalgo, por nome Dom Adão e sua mulher Dona Sancha edificou nesta cidade a casa do Espírito Santo, que está na rua dos Fornos, onde se chama a Pedreira, a qual casa é das mais antigas desta avocação. E acabada, lhe deixou toda a sua fazenda, e deixou ordenado que nela houvesse onze merceeiras e um homem que servisse de tesoureiro, ao qual mandou dar quatro alqueires de trigo e cem rs em dinheiro para conduto, cada mês (...). Em qual casa dizem cada dia dez missas, e está hoje em dia muito bem adornada e perfeita, porque os mercadores desta Cidade, os mais principais, se fizeram confrades da casa, e eles a têm muito bem concertada.”[5] Cerca de 1503, era este hospital incorporado no Hospital Real de Todos-os-Santos,.[6]
O espaço desta casa era delimitado pela Rua dos Fornos e Rua do Canal da Flandres a nascente, Rua do Espírito Santo da Pedreira a poente e Travessa do Espírito Santo a sul. Sabe-se que D. Manuel a enriqueceu e reformou, aumentando ainda os privilégios da Confraria dos Mercadores. No século XVIII alí moravam os Oratorianos e no século XIX foi vendida a Manuel José de Oliveira, 1º Barão de Barcelinhos. Estabeleceram-se mais tarde no local os Grandes Armazéns do Chiado, vitimados pelo devastador incêndio de 1988.[7] Reconstruído cerca de dez anos depois, o edifício que ocupa o local é hoje denominado Centro Comercial do Chiado.

- Hospital e Mercearia de Sancha Dias:
No seu trabalho, Fernando da Silva Correia descreve com esta designação um outro hospital e mercearia, contíguos, localizados na freguesia dos Mártires, junto à Casa do Espírito Santo, fundados por Sancha Dias, mulher do inglês Adam. Refere este autor que a  mercearia tinha 11 camas.[8]
É nosso parecer que este Hospital de Sancha Dias seria o mesmo que o Hospital do Espírito Santo da Pedreira, ao qual João Brandão dá o nome de Capela de Dom Adão. Dadas as semelhanças nas descrições dos três autores, poderemos presumir que durante os séculos de existência desta instituição, ela fosse conhecida por várias denominações, tanto eclesiásticas como populares.


[1] Fernando da Silva Correia, Os Velhos Hospitais da Lisboa Antiga, Revista Municipal nº 10, Câmara Municipal de Lisboa, 1941, p. 12
[2] Gustavo de Matos Sequeira, O Carmo e a Trindade, subsídios para a história de Lisboa, vol. 1, Câmara Municipal de Lisboa, 1939, p. 18
[3] Gustavo de Matos Sequeira, O Carmo e a Trindade, subsídios para a história de Lisboa, vol. 1, Câmara Municipal de Lisboa, 1939, p. 60
[4] Cristóvão Rodrigues de Oliveira, Lisboa em 1551 - Sumário (em que brevemente se contêm algumas coisas assim eclesiásticas como seculares que há na cidade de Lisboa), Livros Horizonte, 1987, p. 51
[5] João Brandão (de Buarcos), Grandeza e abastança de Lisboa em 1552, Livros Horizonte, 1990, p. 135
[6] Mário Carmona, O Hospital Real de Todos-os-Santos da Cidade de Lisboa, 1954, p. 154
[7] João Brandão (de Buarcos), Grandeza e abastança de Lisboa em 1552, Livros Horizonte, 1990, Nota Explicativa, p. 232
[8] Fernando da Silva Correia, Os Velhos Hospitais da Lisboa Antiga, Revista Municipal nº 10, Câmara Municipal de Lisboa, 1941, p. 12

OS HOSPITAIS MEDIEVAIS DE LISBOA - Hospital dos Meninos


Este hospital, que tinha igreja própria era destinado a abrigar meninos órfãos e engeitados, situava-se na Mouraria, fora das muralhas da cidade, na proximidade da Capela de Nossa Senhora da Saúde na Rua Direita da porta de São Vicente, actual Rua do arco do marquês do Alegrete nºs 20, 22, 24, 30 e 46 a 50[1]. Foi esta instituição, fundada por D. Brites ou Beatriz de Gusmão, mulher de D. Afonso III, antes de 1258, sendo o seu provedor directamente escolhido pelo rei. Anos mais tarde, a Rainha Santa Isabel e seu marido D. Dinis, filho de D. Afonso III, deram-lhe bens. Tendo sido depois incorporado no Hospital de Todos-os-Santos, parece ter ainda ficado com autonomia, uma vez que foi posteriormente ampliado e restaurado, por ordem de D. Catarina, mulher de D. João III.[2]


[1] Augusto da Silva Carvalho, Crónica do Hospital de Todos-os-Santos, Edição do V Centenário da Fundação do Hospital Real de Todos-os-Santos, 1992, p. 284
[2] Fernando da Silva Correia, Os Velhos Hospitais da Lisboa Antiga, Revista Municipal nº 10, Câmara Municipal de Lisboa, 1941, p. 10-11

OS HOSPITAIS MEDIEVAIS DE LISBOA - Hospital de Santa Maria do Paraíso

Pouco se sabe acerca desta instituição situada na Rua da Regueira, freguesia de Salvador, em Alfama. A sua fundação parece ser anterior a 1240 e apenas conhecemos o facto de ter sido incorporado no Hospital Real de Todos-os-Santos.[1]


[1] Fernando da Silva Correia, Os Velhos Hospitais da Lisboa Antiga, Revista Municipal nº 10, Câmara Municipal de Lisboa, 1941, p. 10-11

quinta-feira, 17 de maio de 2012

OS HOSPITAIS MEDIEVAIS DE LISBOA - Hospital da Santíssima Trindade e Albergaria da Trindade


Após a vitória na conquista de Alcácer do Sal com a ajuda dos trinitários franceses, entendeu D. Afonso II premiar os trinos, em 1217, com a ermida de Santa Catarina e terrenos circundantes no arrabalde de Lisboa, para que aí instituíssem um convento. Em Fevereiro de 1218 chega a Lisboa um grupo de frades da Ordem dos Trinos da Redenção dos Cativos, provenientes de Santarém, onde tinham principiado um albergue e um hospital. Junto à ermida se construiu então um reduzido albergue e um hospitalinho, para enfermos e peregrinos.[1] Assim se fundou o Convento da Santíssima Trindade de Lisboa em 1218, sendo prior Frei Mateus Anes.[2]. A ordem religiosa, igualmente designada por Ordem da Santíssima Trindade do Resgate dos Cativos, uma vez que se dedicava à libertação dos prisioneiros e dos escravos cristãos em posse dos muçulmanos, foi vivendo no pequeno convento até que, anos mais tarde, a Rainha Santa Isabel o resolveu ampliar a suas expensas e Frei Estevão Soeiro ordenou a construção de um novo hospital para enfermos, peregrinos e cativos remidos. No hospital foi então instituída a Confraria da Santíssima Trindade, na qual foram primeiros confrades o próprio rei D. Diniz e seu filho D. Afonso (que viria mais tarde a ser D. Afonso IV).[3] A confraria, que mais tarde viria a ser administrada pelos Cordoeiros, tinha como Compromisso a assistência aos enfermos no hospital do mosteiro.[4] O mosteiro tinha também anexa uma Albergaria.[5]
Em Janeiro de 1531, Lisboa foi sacudida por dois terramotos dos quais resultou destruição da cidade semelhante à de 1755; parece que houve estragos no mosteiro da Trindade, que se foram agravando até se iniciarem obras em 1569, com a construção de uma nova igreja; a primitiva capela de Santa Catarina foi demolida em 1564.

- Mercearia de D. Antónia Henriques: instituída na Igreja da Trindade, para 9 merceeiras.[6]


[1] Gustavo de Matos Sequeira, O Carmo e a Trindade, subsídios para a história de Lisboa, vol. 1, Câmara Municipal de Lisboa, 1939, p. 6-9
[2] Arquivo Nacional Torre do Tombo, em http://digitarq.dgarq.gov.pt
[3] Gustavo de Matos Sequeira, O Carmo e a Trindade, subsídios para a história de Lisboa, vol. 1, Câmara Municipal de Lisboa, 1939, p. 11-13
[4] Gustavo de Matos Sequeira, O Carmo e a Trindade, subsídios para a história de Lisboa, vol. 1, Câmara Municipal de Lisboa, 1939, p. 52
[5] Fernando da Silva Correia, Os Velhos Hospitais da Lisboa Antiga, Revista Municipal nº 10, Câmara Municipal de Lisboa, 1941, p. 11
[6] Fernando da Silva Correia, Os Velhos Hospitais da Lisboa Antiga, Revista Municipal nº 10, Câmara Municipal de Lisboa, 1941, p. 12