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terça-feira, 22 de janeiro de 2013

SANTOS-O-VELHO - Palácio de Alvor ou de Alvor-Pombal


Em 1584, o convento das Comendadeiras de Santos detinha uma vasta área; sobre os chãos foreiros às Comendadeiras se construiu, em 1584, o Convento das Carmelitas descalças de Stº Alberto, também denominado Convento das Albertas.

Capela do Convento de Santo Alberto
Capela do Convento de S. Alberto

Já no sec. XVII, por volta de 1690, foi mandado construir um palácio em terreno anexo ao convento por D. Francisco de Távora, 1º conde de Alvor. O palácio de configuração rectangular, confinando a poente com o convento de Santo Alberto, foi vendido pelo filho de D. Francisco a Matias Aires Silva Eça, provedor da Casa da Moeda, cerca de 1747. Matias Eça arrendou o edifício de 1759 a 1762 ao conde de Metch, embaixador alemão, por 3 mil cruzados anuais, e posteriormente ao cônsul holandês Daniel Gildemeester; cerca de 1775, este mandou realizar obras de conservação e decoração, de que restam ainda alguns tectos estucados, possivelmente atribuídos a Giovanni Rossi, tal como a porta monumental em estilo barroco.

Portal do Palácio Alvor-Pombal

Palácio Alvor ou Alvor-Pombal


















A morte de Matias Aires de Eça provocou a venda da casa pelos herdeiros a um irmão do marquês de Pombal, Paulo de Carvalho Mendonça, tendo depois pertencido por herança, ao próprio Marquês. Na época foram colocadas nos dois portais exteriores e na porta de acesso ao salão nobre, as armas de Pombal.

Portal exterior do Palácio Alvor-Pombal
Brasão dos Marqueses de Pombal
























Durante o sec. XVIII esteve o palácio quase sempre alugado pela família Pombal. Em 1882 tinha o Estado Português alugado o palácio, aí se tendo inaugurado a 12 de Janeiro, com a presença de D. Afonso XII de Espanha e D. Luis I de Portugal, a Exposição de Arte Ornamental, organizada pela Academia Real de Belas-Artes e apadrinhada por D. Fernando II, que para ela contribuiu com o empréstimo de várias peças da sua colecção particular. Tendo a exposição sido um sucesso, com cerca de 100.000 visitantes, decide-se três anos depois o Estado Português a comprar o Palácio Alvor, para aí criar o Museu Nacional de Belas-Artes e Arqueologia; após a implantação da República o museu foi denominado em 1911 como Museu Nacional de Arte Antiga.
Em 1918 é demolido o convento de Santo Alberto, que se encontrava em ruínas, tendo sido poupada a capela. Após vários projectos, é aprovado o de Guilherme Rebelo de Andrade, que começou a ser executado em 1933, construindo-se então o denominado Anexo, com faustosa entrada pelo Jardim 9 de Abril, inaugurado em 1940, por altura da Exposição do Mundo Português. 

Anexo do Museu Nacional de Arte Antiga
Entrada do Anexo do Museu



















Nos anos seguintes remodelou-se o palácio com a construção de um corpo oriental e modificação do antigo edifício. Nos anos 80 foi submetido a nova restruturação, com um projecto de João de Almeida, o mesmo arquitecto que planeou a última remodelação em 1992.
O Museu tem ainda um belo jardim virado a sul, com uma magnífica vista sobre o rio Tejo, o qual deveria ser mais amplamente divulgado aos visitantes.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

OS HOSPITAIS MEDIEVAIS DE LISBOA - Hospital do Corpo Santo

Frei Pedro Gonzalez ou Pero Gonçalvez, da Ordem dos Pregadores ou Dominicanos, terá nascido em 1185 e falecido em 1240 ou 1246, após o que foi sepultado na catedral de Tuy; tendo ingressado no convento dominicano de Palência, região de onde era natural, radicou-se posteriormente na Galiza, onde viveu grande parte da vida. A sua figura prende-se à veneração dos mareantes, sendo relatados muitos milagres que o associam à protecção de embarcações durante tempestades, como bem descreve Frei Luís de Sousa (falecido em 1622): “S. Pero Gonçalves, em sendo chamado, acode logo com luz, em penhor de sua assistência, a qual enche de esperança os afligidos, tão certa que logo se dão por remediados e salvos, por grande que seja o trabalho. (...) He este farol hum lume como de huma vela, o qual toma lugar certo na nao: ora aparece sobre os mastros, ora nas gáveas, ora nas antenas, e às vezes sobre lugares mais baixos dos navios; e o ordinário é não se ver senão em tempestades de grande perigo. Tanto que aparece, logo toda a nao lhe dá as graças com grita e alegria, dizendo: «Salva, Corpo Santo!»; porque na linguagem ordinária dos mareantes Portugueses, por este nome de Corpo Santo he conhecido S. Pero Gonçalves.” [1] Vemos pois que o santo se encontrava unido ao fenómeno de ionização do ar que ocorre durante tempestades de forte campo electro-magnético, designado na gíria náutica por “Fogo de Santelmo”.  A designação de S. Temo ou Santelmo refere-se exactamente à mesma personagem, tendo este último nome sido adoptado sobretudo em Espanha e Itália, provavelmente por analogia itálica com São Erasmo (também designado por Ermo ou Telmo); certo é que Pedro Gonçalves não possuía Telmo no seu nome. Considerado como protector dos mareantes, foi objecto de culto intenso em toda a costa de Portugal, sendo finalmente canonizado no século XVIII.
No Largo actualmente designado por Corpo Santo, existia a Ermida de Nossa Senhora da Graça, que albergava uma imagem de S. Pedro Gonçalvez, venerado pelas gentes do mar que habitavam na área e estendiam as suas redes para secar no terreiro adjacente. Foi esta igreja paroquial até 1412, altura em que a paróquia se deslocou para S. Paulo; parece não ter sofrido grande estrago com o terramoto de 1755, tendo no entanto sido substituída pela igreja actual no século XVIII. Os marinheiros começaram a designar a ermida por Corpo Santo, nome que perdura até aos nossos dias. Fundou-se, em data incerta, uma confraria associada à igreja, designada por Irmandade e Hospital de Senhora da Graça do Corpo Santo, pertencente aos pescadores de Cata-que-Farás (local correspondente aos actual Corpo Santo), a qual tinha grandes proventos derivados de uma pensão paga pelos moradores do bairro e de uma taxa sobre todos os produtos vendidos no largo.[2] A confraria dos mareantes administrava o hospital situado nesse local e, embora tenhamos encontrado referência da incorporação da instituição no Hospital de Todos-os-Santos[3], encontramo-lo ainda descrito cerca de 1551: “O hospital e confraria do Corpo santo está na freguesia dos Mártires. Valem as esmolas que aí fazem cincoenta cruzados.”[4] Desconhecemos a data em que o hospital terminou as suas funções, assim como as suas características.


[1] Mário Martins, S. J., S. Pero Gonçalvez, O. P., O “Corpo Santo” e Gil Vicente, Lusitania Sacra,  p. 39-43, em http://repositorio.ucp.pt/bitstream/10400.14/5045/1/LS_S1_08_Mario%20Martins.pdf
[2] Jorge Manuel da Conceição Rodrigues, A Confraria das Almas do Corpo Santo de Massarelos e suas Congéneres de Mareantes, Dissertação de Mestrado em História Moderna apresentada na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Porto, 2002, p. 52, em repositorio-aberto.up.pt
[3] Fernando da Silva Correia, Os Velhos Hospitais da Lisboa Antiga, Revista Municipal nº 10, Câmara Municipal de Lisboa, 1941, p. 10-11
[4] Cristóvão Rodrigues de Oliveira, Lisboa em 1551 - Sumário (em que brevemente se contêm algumas coisas assim eclesiásticas como seculares que há na cidade de Lisboa), Livros Horizonte, 1987, p. 56

OS HOSPITAIS MEDIEVAIS DE LISBOA - Hospital dos Clérigos pobres


Ficava localizado na Rua da Betesga, freguesia de Santa Justa. Foi incorporado no Hospital de Todos-os-Santos.[1] Está referido como sendo administrado pelos religiosos de São João de Deus em 1631.[2]


[1] Fernando da Silva Correia, Os Velhos Hospitais da Lisboa Antiga, Revista Municipal nº 10, Câmara Municipal de Lisboa, 1941, p. 10-11
[2]  Manoel Borges Carneiro, Resumo chronologico das leis mais uteis no foro e uso da vida civil, publicadas até o presente anno de 1819, Vol. 2, Impressão Régia, 1819, p. 572, em http://books.google.pt

OS HOSPITAIS MEDIEVAIS DE LISBOA - Hospital de São Vicente do Corvo

Pouco se sabe deste hospital, aparentemente pertencente aos carpinteiros da ribeira; situava-se na Rua de Castelo Picão nºs 56-58, no Bairro dos Escolares, freguesia do Salvador. Foi incorporado no Hospital de Todos-os-Santos.[1] Aparece referenciado em 1498 num documento de emprazamento.[2]




[1] Fernando da Silva Correia, Os Velhos Hospitais da Lisboa Antiga, Revista Municipal nº 10, Câmara Municipal de Lisboa, 1941, p. 10-11
[2] Arquivo Nacional Torre do Tombo, Chancelaria de D. Manuel I, liv. 22, fl. 10v

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

OS HOSPITAIS MEDIEVAIS DE LISBOA - Hospital de Santa Maria das Mercês:


Considerado o hospital dos carpinteiros, correeiros, odreiros e pedreiros, estava localizado, segundo diferentes versões, às Pedras Negras (que seria freguesia da Madalena) ou na Caldeiraria(?), freguesia de S. Nicolau. Parece-nos esta última hipótese como mais viável, uma vez que era gerido por uma irmandade da mesma invocação, a Irmandade de Nossa Senhora das Mercês, que pertencia à paróquia de S. Nicolau. Encontramos ainda uma referência a um Hospital de Santa Maria, dos sapateiros e odreiros, como local de execução de uma escritura de emprazamento em 1493,[1] que podemos interpretar como sendo a mesma instituição, embora não seja possível a sua confirmação nos documentos compulsados.
Foi o Hospital de Santa Maria das Mercês incorporado no Hospital de Todos-os-Santos,[2] cerca de 1503.
Parece que este hospital teve em anexo a Albergaria dos Sapateiros, da qual já existe referência no ano de 1283, localizando-a junto à rua dos Maçolgadores na rua dos Correeiros.[3] A Albergaria também é referenciada com a localização na Rua de São Nicolau (?), na freguesia com o mesmo nome,[4] sabendo-se que existiu pelo menos até 1340.[5] As diferentes localizações são difíceis de comprovar, faltando-nos claras referências toponímicas do período estudado; tanto é possível ter a albergaria mudado de localização como terem existido diversos nomes para designar o mesmo arruamento em épocas diversas.


[1] Mário Carmona, O Hospital Real de Todos-os-Santos da Cidade de Lisboa, 1954, p. 54-55
[2] Fernando da Silva Correia, Os Velhos Hospitais da Lisboa Antiga, Revista Municipal nº 10, Câmara Municipal de Lisboa, 1941, p. 10-11
[3] Carlos Guardado da Silva, Lisboa Medieval – a organização a e estruturação do espaço urbano, Lisboa, Edições Colibri, 2008, p. 282
[4] IANT/TT, Chancelaria de D. Pedro, Doc. 1128, fl 534, 1366 Agosto 19, citado por Carlos Guardado da Silva, Lisboa Medieval – a organização a e estruturação do espaço urbano, Lisboa, Edições Colibri, 2008, p. 254
[5] Vieira da Silva, As Muralhas da Ribeira de Lisboa, 2ª ed., Vol. I, Câmara Municipal de Lisboa, 1940, p. 160-161

OS HOSPITAIS MEDIEVAIS DE LISBOA - Hospital dos Carniceiros:


Pouco se conhece deste hospital, que se encontrava situado na Travessa da Sombreiraria, ao Poço do Chão, na freguesia de S. Nicolau, correspondendo actualmente à zona do cruzamento das Ruas do Ouro e da Conceição. Foi incorporado no Hospital de Todos-os-Santos.[1]

Encontramos ainda referência à Albergaria dos Carniceiros, existente em 1285 e que se situava na Carniçaria Velha,[2] A Carniçaria Velha localizava-se junto às Fangas da Farinha (ou celeiro real), na freguesia da Madalena, correspondendo à actual zona da Rua da Padaria, perto da Rua dos Bacalhoeiros. Não nos foi possível, porém, relacionar fisicamente o hospital com a albergaria, uma vez que se encontravam distantes entre si e as datas referenciadas se encontram também separadas por alguns séculos.





[1] Fernando da Silva Correia, Os Velhos Hospitais da Lisboa Antiga, Revista Municipal nº 10, Câmara Municipal de Lisboa, 1941, p. 10-11
[2] Carlos Guardado da Silva, Lisboa Medieval – a organização a e estruturação do espaço urbano, Lisboa, Edições Colibri, 2008, p. 282