Já em período romano parece ter
existido algum aproveitamento das águas que brotavam das entranhas de Lisboa,
numa área de falhas geológicas correspondente na actualidade à parte baixa da
Alfama; como vestígios dessa utilização, encontramos algumas estruturas
hidráulicas que poderão corresponder a um edifício termal romano do séc. I /II
d.c. na Rua de S. João da Praça, uma estrutura para banhos que poderá
corresponder a um tanque de águas frias de um balneário romano em funcionamento
até ao séc. IV d.c. no Beco do Marquês de Angeja, um tanque no Largo das
Alcaçarias e o facto de poder eventualmente atribuir-se a primitiva construção
do Chafariz de Dentro ao período romano.[1]
Remonta, no entanto, ao período
muçulmano o conhecimento de fontes de água quente em Lisboa, designadas em
árabe por al-hammã, de onde deriva a
palavra Alfama; estas fontes termais encontram-se descritas do seguinte modo: “A leste, uma porta, dita Porta de Alfama,
que fica próxima da fonte termal situada junto ao mar. São termas abobadadas
nas quais brota água quente e água fria que a maré cheia cobre.”[2]
Azulejo no Largo das Alcaçarias |
As nascentes aí situadas asseguravam o
abastecimento da população no Chafarizes de El-Rei e dos Cavalos (Chafariz de
Dentro), nos banhos e nas Alcaçarias. O termo Alcaçaria deriva do árabe al-qaisariiâ[3] ou
al-kaisariya[4],
que significa bazar ou lojas, adoptando posteriormente o significado de
oficinas de cortumes e aplicando-se à designação própria de banhos termais em
Lisboa. Sabemos que, devido ao facto de existirem águas quentes e sulfúreas, as
Alcaçarias foram de facto aproveitadas para banhos termais, assim como para
lavagem de lãs e curtimento de peles.
As descrições que encontramos acerca
das Alcaçarias da cidade de Lisboa, apesar de frequentes, apresentam-se algo
confusas para o leitor interessado no tema; na generalidade dos documentos
encontram-se estudadas em conjunto, carecendo de caracterização particular; a
obra de Vieira da Silva tenta sistematizá-las separadamente, mas uma leitura
mais atenta revela sobreposições e ausência de informação crucial para podermos
afirmar claramente as suas características, facto aliás reconhecido no texto
pelo próprio autor. Os textos mais recentes também não fornecem particular
ajuda, sobretudo por tratarem mais da sua história recente que das suas
origens. Trataremos assim de dar uma visão geral sobre o conjunto de nascentes
de água localizado entre os actuais Chafariz de Dentro e Chafariz d’El-Rei, e
entregarmo-nos posteriormente à tentativa de caracterização individual de cada
um dos seus componentes. Para melhor compreensão desta área da cidade tentaremos
referenciar as estruturas que nela existiam, correlacionando-as, dentro do possível,
com a topografia actual.
Analisemos em primeiro lugar a preciosa
descrição de João Brandão em 1552, interpretando-a à luz da actualidade, na
tentativa de ajudar o leitor e o visitante local:
“Outra
coisa há na dita cidade (Lisboa) mui
grande, de que se faz mui pouco caso, e bem olhado parece, e é coisa lançada
nela por permissão divina, porque sem ela não fora edificada no lugar em que é,
nem fora em tanto crescimento.
E
digo que nela há 10 casas de água, em as quais nasce tanta, que estando em
terra alta de queda poderiam moer oito azenhas roqueiras, e mais de admiração
disto é estarem todas (a) um tiro de besta.
Porque o chafariz de V. Alteza (Chafariz d’El-Rei), onde correm seis canos quotidianamente, é água que, vindo de alto,
moeriam duas azenhas roqueiras. E logo (a) um tiro de pedra, um lago e casa de água, onde de contínuo ensaboam
trezentas mulheres (Alcaçarias da Freguesia de S. Pedro), e é tanta que mui bem moeriam nela três
azenhas roqueiras. Da qual água há adiante tanques, onde se lavam muitos couros
e lãs. E logo além desta água estão sete ou oito casas, em as quais todas nasce
água. E com as atrás, são por todas dez; e há nelas duzentos e cinquenta pelames
e noques (tanques) de curtir couros.
E destas sete casas que digo sai tamanho golpe de água que poderão moer outras
duas azenhas roqueiras, tendo queda. E daí a trinta passos sai das mesmas casas
outro golpe de água, que poderá moer outras duas azenhas. E logo cinquenta
côvados adiante está o Chafariz dos Cavalos (Chafariz de Dentro), donde se provê muita parte da cidade, e é a
água tanta que dentro da casa donde nasce está um lago, onde de contínuo lavam
cinquenta mulheres. E logo arriba há outro cano que sai ao chafariz, donde
bebem muitos bois e bestas, que trazem dos arrabaldes. E logo além está outro
cano que vem de uma fonte pegado ao chafariz, donde levam água para casas, cada
dia dois a três mil potes, de maneira que das águas perdidas que vão ao mar
poderiam moer de contínuo duas azenhas, porque são águas nadíveis (nativas)
da maneira sobredita, as quais tendo
quedas poderiam moer mui bem nove azenhas roqueiras, como tenho dito.”[5]
Iniciemos agora o nosso percurso em
sentido contrário, no Largo do Chafariz de Dentro; a Cerca Fernandina de
Lisboa, construída entre 1373 e 1375, atravessava o largo de nascente para
poente, tendo em frente do chafariz as respectivas Portas do Chafariz de Dentro
(também designadas por Portas ou Porta do Chafariz dos Cavalos ou do Chafariz de
Alfama); as portas consistiam em dois vãos, dos quais o ocidental seria o
primitivo e o outro aberto posteriormente “às
lavadeiras” segundo uma versão, ou pelo contrário seria o mais ocidental o postigo das lavadeiras, numa obra
executada no ano de 1494; estas portas foram demolidas em 1765 mas trabalhos
arqueológicos decorridos em 2008 permitiram encontrar os seus alicerces.
Chafariz de Dentro ou dos Cavalos (exterior) |
Chafariz de Dentro (interior) |
O Chafariz de Dentro conserva ainda
duas casas de água, sendo uma delas visitável, alimentadas por nascentes
distintas, caracterizadas pela presença de água bicarbonatada cálcica com
temperatura de 25,5ºC. A água do Chafariz de Dentro foi canalizada para
abastecer um chafariz mais a sul, localizado na praia, construído em 1623 e
designado por Chafariz da Praia; destinado a fornecer aguada aos navios, foi
reconstruído em 1836, para ser finalmente demolido na década de 40 do século
XX; os trabalhos arqueológicos executados em 2008 permitiram identificar os
seus alicerces.[7]
No prédio com os números 19 e 20 do
Largo do Chafariz de Dentro,[8]
hoje ocupado por um restaurante, localizavam-se os Banhos ou Alcaçarias do Doutor ou do Doutor Fernando, aproveitando
uma nascente bicarbonatada cálcica brotando a 25 / 27ºC e cuja água é a de mais
baixa mineralização de todo o conjunto termal da Alfama.[9]
Aí se adaptaram umas casas a estabelecimento balnear, do qual não encontramos
referências anteriores ao séc. XVII; aparentemente reformadas em 1773, altura
em que começaram a ser conhecidas por Banhos do Doutor, funcionaram até ao
século XIX. Uma planta, que serviu ao processo de licenciamento a “balneário público” pela Inspecção das Águas
em 1894, mostra uma casa de entrada com 6 divisões para banheiras, uma casa da
caldeira e uma outra sala de utilização não designada.
Banhos do Mosteiro de Alcobaça |
Situados ainda junto ao Chafariz de
Dentro, no lado interior da cerca Fernandina, no local do prédio com o número 8
do Largo do Chafariz de Dentro encontravam-se os Banhos do Mosteiro de Alcobaça. No período cristão medieval, estes
banhos de Alfama estavam nas mãos dos monges cistercienses do Mosteiro de
Alcobaça, tendo-se conhecimento de um litígio, em 1392, entre estes e o Senado
da Câmara de Lisboa sobre o direito de administração dos banhos[10] e
de servidão do muro da cerca. Ainda no séc. XIV, existe uma referência à
possessão ou administração de umas fontes na freguesia de Santo Estevão por um
João Roal e à administração de outras pelo Mosteiro de Alcobaça.[11] A
descrição do edifício no século XV mostra-nos que confinava do lado sul com “uma torre e o muro da dita cidade” e do
lado oriental “ com a escada de pedra que
vai para o muro” (1435). Este prédio foi foreiro ao Mosteiro de Alcobaça
até 1834 e ainda em 1949 se aproveitava a água da nascente, extraída com uma
bomba.[12]
Antiga torre da Cerca Fernandina |
Caminhando para ocidente, continuava a
cerca por uma torre sobressaída, com 6,8 m x 6,3 m, correspondente ao prédio situado
na esquina oriental da Rua do Terreiro do Trigo com o Largo do Chafariz de
Dentro, prédio esse que se encontra assente na estrutura da torre; esta torre
não é mais que a descrita anteriormente como adjacente aos Banhos do Mosteiro
de Alcobaça. Parece ter existido no lado sul desta torre uma bica de água (Chafariz
dos Paus, demolido entre 1765 e 1773[13])
e persiste no seu lado norte a antiga escada de acesso à torre, perpendicular à
linha da muralha, embora actualmente coberta por um telhado e disfarçada no
interior do prédio.
Beco dos Cortumes |
A Cerca continuava depois para
ocidente, formando a confrontação sul do Beco dos Cortumes (hoje ainda
comprovadamente nas traseiras dos prédios da Rua do Terreiro do Trigo nºs 6 a
60), presumivelmente até ao Largo das Alcaçarias; o Beco dos Cortumes, também
designado por Beco das Alcaçarias ou Beco das Alcaçarias ao longo do Muro
(1551) ou ainda por Beco do Curtimento das Peles, encontra-se hoje seccionado
por edifícios, restando-lhe apenas uns escassos metros; aí se encontravam em
tempos mais recuados, presumivelmente no seu lado norte, alguns tanques
servindo à lavagem de couros e lãs. Luís Martinho de Azevedo, em 1652, critica
o mau aproveitamento dado a esta “agoa
salutífera” que era recolhida nos “tanques
em que se pellão os couros”.[14]
Tinha a cerca ainda uma outra torre,
actualmente desaparecida, a cerca de 45 m da descrita anteriormente. Presume-se
que a sua localização seria no lado sul do Beco dos Cortumes, encontrando-se
descrita em 1530 e, segundo o Tombo de 1573, continha no seu interior uma arca
de água: “... torre que está junto do Postigo do Lavatório de Alfama, dentro da qual
torre está uma casa de água.”[15]
O Postigo da Alfama, também designado por postigo das Alcaçarias, Postigo da
Lavagem, Postigo do Lavatório de Alfama ou Postigo de S. Miguel, corresponde à
actual Travessa do Terreiro do Trigo. No séc. XVII construiu-se, para
aproveitamento destas águas, um edifício no lado exterior das muralhas, provavelmente
pela mão do mercador veneziano Francesco Estudenduli.[16]
Em Junho de 1716, D. Nuno Álvares Pereira de Melo, primeiro duque do Cadaval, aí
abriu uns banhos, que se passaram a designar Alcaçarias do Duque ou Alcaçarias do Duque do Cadaval, pertencentes
à freguesia de S. Miguel;
Alcaçarias do Duque do Cadaval |
o duque fez construir um estabelecimento termal com catorze
tinas, seis para homens e oito para mulheres. Somente em 1726 se faz uma detalhada
descrição médica das propriedades terapêuticas destas águas, afirmando que são “… de muita utilidade em curar as
intemperanças quentes das entranhas, do sangue, do útero, dos rins e das mais
partes do corpo; e os estupores e parlesias espurios; a debilidade de estômago;
a fraquesa e queixas das juntas que ficam das gotas artéticas, e reumatismos;
as convulsões, os acidentes do útero (…), os vómitos dos hipocôndrios; as
diarreias (…). Para os achaques a que chamam do fígado, são prodigiosas, porque
curam as pústulas, sarnas, impingens, lepra e todos os achaques e defedações
cutâneas (…)”.[17] A
casa, correspondente aos actuais nºs 52
a 60 da Rua do Terreiro do Trigo, foi reformada e forrada de azulejo em 1864,
ficando com quinze quartos.[18] Foi-lhe
concedida a concessão de “balneário público” em 1895, custando os banhos entre
200 e 300 réis e providenciando duches, irrigações, banhos comuns e venda de
água termal em barris de 25 L a 40 reis a unidade.[19]
Segundo uma classificação realizada por Charles Lepièrre em 1927, as Alcaçarias
do Duque tinham duas nascentes distintas, a Grande Alcalina com características
de bicarbonatada calco-sódica e temperatura de 30,8ºC e a nascente Sulfúrea ou
Sulfurosa, menos mineralizada e com temperatura de 31ºC. Estas termas
funcionaram até 1978, altura em que foram consideradas inquinadas e encerradas,
encontrando-se actualmente abandonadas. [20]
O Postigo da Alfama, dava abertura à
antiga Rua ou Beco da Alfama, actualmente designada por Travessa do Terreiro do
Trigo. Desconhece-se o preciso traçado da Cerca Fernandina a partir do Postigo
da Alfama para ocidente, até à torre pentagonal ainda hoje existente no Largo
de São Rafael, designada como Torre de São Pedro ou Torre da Alfama, já
pertença da Cerca Velha de Lisboa; no largo de São Rafael encontramos mais uma
nascente e podemos afirmar que termina neste local a Cerca Fernandina.
Torre de S. Pedro |
Localizadas a sul da Cerca Fernandina
temos conhecimento de umas alcaçarias pertencentes a D. Diniz, em 1299: “(...) in collatione sancti petri quasdam domos cum
suis alcaçariis, quae sunt inter murum et marem.”;[21]
contrariando a opinião de Vieira da Silva, parece-nos apropriado considerá-las como
percursoras de dois estabelecimentos balneares de surgimento mais tardio e que
passaremos a descrever. No lado ocidental da Travessa do Terreiro do Trigo, no
actual edifício com os números 62 a 68 da Rua do Terreiro do Trigo,
encontravam-se as Alcaçarias de D. Clara,
estabelecimento fundado em 1759 por D. Clara Xavier de Aguiar, mulher do
sargento-mor Aurélio da Silva de Castilho; as tinas dos banhos encostavam-se ao
lado oriental do prédio, junto a 6 janelas com grades; foi-lhes concedido o
estatuto de “balneário público” em 1894, com banhos quentes a 400 reis,
terminando o seu funcionamento no final do séc. XIX;[22]
a água desta nascente é a mais mineralizada de todo o conjunto termal, bicarbonatada
cloretada cálcica, atingindo a temperatura de 24ºC a 34ºC. As Alcaçarias do Baptista ou Banhos de J. A.
Baptista foram fundadas, ao que parece, na segunda metade do século XIX, no
prédio que ocupa os números 78 a 84 da Rua do Terreiro do Trigo, inicialmente
designados por Banhos de J. A. Baptista, mais tardiamente tomando o nome de Banhos
da Viúva Baptista & Filhos; possuíam sete quartos para banhos, com estatuto
de “balneário público” concedido em 1894, aproveitando uma água bicarbonatada
cloretada cálcica que brota à temperatura de 24ªC a 34ºC; tiveram existência efémera,
encerrando nos finais do séc. XIX. [23]
Voltemos agora um pouco atrás e entremos
pela antiga Rua de Alfama, hoje designada por Travessa do Terreiro do Trigo,
onde em tempos mais remotos se situava o Postigo da Alfama; nessa época a
topografia diferia da actual, sendo uma rua estreita, na qual se abria do lado
oriental o Beco dos Cortumes e do lado ocidental a Travessa da Rua de Alfama
(1551), mais tarde designada por Beco das Lavadeiras (1763) e posteriormente
por Beco das Barrelas (1845), nome pelo qual ainda hoje é designada a porção
restante da rua;
no decurso de uma escavação arqueológica realizada em 2006
foram encontrados nos nºs 1, 2 e 5 do Largo das Alcaçarias, assim como nos nºs 27 a 33 da
Rua de S. Pedro, um tanque romano, fornos de olaria islâmicos do séc. XII, um
conjunto de muros de uma estrutura hidráulica, tanques para preparação de curtumes
escavados ou assentes no afloramento rochoso do solo, um conjunto de atafonas
(moinhos manuais), um conjunto de fossas cheias de cinzas para fabrico de sabão
e um tanque de banhos.[24]
Largo das Alcaçarias |
As
Alcaçarias do Conde de Penela são citadas em 19 de Agosto de 1502, numa
carta de D. Manuel ao Hospital Real de Todos-os-Santos, na qual procede à
doação de “metade de um chão em Alfama
com metade da água que ali sáe, do qual é emphyteuta o Conde de Penella”;[25]
Júlio de Castilho, e Vieira da Silva no seu encalce, referem que talvez fossem
as mesmas referenciadas como Alcaçarias da Freguesia de S. Pedro.
Alcaçarias da Freguesia de S. Pedro |
No lado ocidental do Postigo de Alfama
(actual Travessa do Terreiro do Trigo), a norte da cerca fernandina, encontravam-se
outras alcaçarias, já pertencentes à freguesia de São Pedro e por esse motivo
designadas como Alcaçarias na Freguesia
de S. Pedro; existem referências de que teriam pertencido a D. Diniz, o que
não me parece coerente com a sua situação dentro do muro da cidade, como atrás
constatámos, assim como poderiam tratar-se de umas alcaçarias pertencentes às
Comendadeiras de Santos;[26]
seremos incapazes de o confirmar. Temos sim conhecimento que estas alcaçarias
foram adaptadas a lavadouro público, onde trabalhavam quotidianamente as
lavadeiras, que se diz ter sido construído ao
Cerca de 1868, a demolição de um muro no
limite sul do Largo das Alcaçarias pôs a descoberto uma nascente a que o povo
chamou Fonte das Ratas, de forte caudal; correu em Lisboa que a água desta
Fonte teria propriedades curativas, tornando-a de tal modo popular que se
faziam filas para recolha da sua água, o que chegou a ocorrer a um ritmo de
cerca de 360 garrafões por hora; em 1963 foi decretado o seu encerramento,
alegadamente por estar a água inquinada, originando forte revolta da população;
desconhecemos se o facto de a água não se encontrar apropriada ao consumo
humano seria verdadeiro ou se o encerramento se deveu aos interesses económicos
monopolistas da Companhia das Águas de Lisboa (hoje denominada EPAL), uma vez
que não nos chegaram quaisquer comprovativos de doenças causadas pelo seu consumo.
Como vimos, a Cerca Velha, iniciada na
Torre de São Pedro parte depois para ocidente, confrontando a norte a Rua da
Judiaria, onde é ainda nitidamente identificável, até aos vestígios de outra
torre que forma o lado ocidental do pequeno pátio da Rua da Judiaria; nesta rua
encontramos actualmente uma grande extensão de muralha, encimada pelo Palácio
da Senhora de Murça com as suas janelas e cubelo da muralha, em estilo Manuelino;
neste segmento da Cerca Velha foi recentemente encontrada, após a demolição de
uns casebres adossados ao muro, uma porta da muralha de Lisboa que não se
encontra descrita em qualquer documento; de referir ainda como curiosidade que
no subsolo deste pequeno largo foram encontradas duas grutas,
com sinais de
ocupação na Idade do Ferro (séculos V a VI a.c.). A velha cerca da cidade
inflecte então, a partir da torre ocidental da Rua da Judiaria, para sul, até
se encontrar com o extremo oriental do Chafariz d’El-Rei. Sobre o Arco do
Rosário, encontrávamos noutros tempos a Ermida de Nossa Senhora do Rosário,
construída encimando o arco de entrada e substituída na actualidade por um
prédio; encontramos ainda, no lado sul deste pequeno pátio mais uma nascente,
designada por Fonte do Poeta, da qual brota um caudal considerável de água
fria.
Palácio da Senhora da Murça |
O Chafariz d’El-Rei, edificado no
século XIII e nesta época referenciado com chafariz Sancti Johanis, encosta-se à vertente sul da Cerca Moura de Lisboa,
atribuindo-se a sua edificação a D. Diniz[30].
Sabe-se que D. Afonso V, no ano de 1468, fez a doação de uma propriedade assim
descrita: “partindo com o chafariz (chafariz
de El-Rei) e com muro da cidade (...)
umas casas e banhos com sua caldeira e aparelhos que para eles pertenciam”.[31]
Estas casas seriam porventura as mesmas que em 1517 pertenciam a Lopo de
Albuquerque e que foram adquiridas pela Câmara. As casas sobranceiras ao Chafariz
d’El-Rei constituíam em 1755 o Palácio do Marquês de Angeja, referido no Tombo
como “ocupando a frente do dito chafariz
e a torre de forteficação antiga” (da Cerca Velha);[32]
no decurso de uma intervenção arqueológica em 2005, foi encontrada no Palácio uma estrutura hidráulica
constituída por uma conduta abobadada de distribuição de água de nascente,
provavelmente seiscentista e uma estrutura hidráulica que poderá corresponder a
um compartimento de um edifício termal da época romana (séc. I / II d.C.). Uma
parte do palácio foi posteriormente transformada no
palacete do início do séc.
XX de características arquitectónicas peculiares que encima actualmente o
chafariz; na intervenção de 2005 foi aí descoberta uma estrutura que poderá
corresponder a um tanque de águas frias de um balneário romano que esteve em funcionamento
até ao séc. IV d.C.[33]
Palacete do Chafariz de El-Rei |
As
imagens mais antigas de que dispomos do Chafariz de El-Rei são do século XVI e
mostram-nos o chafariz como um alpendre formado por três arcos de volta
perfeita assentes em colunas, em cuja frontaria se vêm duas esferas armilares
decorativas (artefacto que será posterior ao reinado de D. Manuel). Damião de
Góis, em 1554, refere-se ao Chafariz d’El-Rei como uma construção com colunas,
arcarias de mármore e seis bicas, de onde brotava puríssima água morna, não
descrevendo porém qualquer estabelecimento balnear associado; referencia também
outras duas fontes na vizinhança, com abundancia de água tal que “muitas azenhas poderiam ser facilmente
movidas”, as quais constituíam na época grande utilidade para lavadeiras,
curtidores de peles e surradores; descreve ainda o mesmo autor, na proximidade,
um tanque chamado dos Cavalos, de onde a água jorrava dos focinhos de
esculturas de
cavalos.[34] A
imagem actual do chafariz corresponde a várias intervenções ocorridas desde o
século XVI e sobretudo a obras de embelezamento realizadas no século XIX. A sua
água nasce a 27ºC de uma mina situada a norte, junto ao Palácio do Marquês de
Angeja, e tem como característica hidroquímica ser bicarbonatada cloretada
cálcica;[35] a
mina não se encontra actualmente aberta ao público, por motivos de segurança,
estando a Câmara Municipal a tentar a sua recuperação; existe ainda numa arca
de água, visitável, que ocupa as traseiras do chafariz, coberta por abóbodas de
berço, podendo observar-se também a estrutura hidráulica de canalização para
abastecimento das bicas.
Chafariz de El-Rei (exterior) |
Chafariz de El-Rei (interior - arca de água) |
Regressemos então às referências
históricas que encontramos sobre as Alcaçarias da Alfama, podendo agora
sistematizar as diversas fontes e nascentes encontrada
2.Nascente da torre do lado ocidental do Largo do Chafariz de Dentro
3.Nascente situada supostamente ao norte do Beco dos Cortumes, que servia ao tanque de lavagem das lãs e couros (água quente); considerada “agoa salutífera” em 1652
4.Arca de água da torre junto ao Beco dos Cortumes
5.Nascente localizada na Travessa da Rua de Alfama, Beco das Lavadeiras, Beco das Barrelas ou Largo das Alcaçarias, servindo o tanque das lavadeiras (água quente); considerada ter “algum bom efeito” quando ingerida, em 1610
6.Nascente a sul da Cerca, do lado poente do Postigo da Alfama
7.Nascente do Largo de São Rafael
8.Nascente na Rua da Judiaria / Arco do Rosário ou Fonte do Poeta (água fria)
9.Chafariz d’El-Rei (água quente); existência de banhos em 1468
Por estas referências, tomamos
conhecimento de que em toda a área da margem do Tejo compreendida entre o
Chafariz de Dentro a oriente e o Chafariz d’El-Rei a ocidente existiam várias fontes
de águas quentes que se aproveitaram em épocas distintas para fins
terapêuticos, designando-se em termos gerais por Alcaçarias ou Alcaçarias de
Alfama.
A confusão que existe na sistematização
destas nascentes ao longo dos tempos é muito provavelmente derivada de
modificações da localização das nascentes, que poderiam perder a totalidade do
caudal para surgirem mais tarde numa outra localização próxima; este fenómeno
também poderia explicar o motivo de períodos de intensa exploração dessas águas
termais intercalando com períodos de esquecimento da sua existência nos quais o
seu usufruto não é referenciado. Estes fenómenos de alteração no tempo e no
espaço poder-se-iam justificar, segundo os técnicos da Câmara Municipal de
Lisboa, por alterações geológicas profundas do local, muito provavelmente tendo
como origem os fortes e periódicos sismos que têm afectado Lisboa ao longo dos
séculos, causadores de modificações nas camadas geológicas do local.
Nos tempos modernos conhece-se a
existência comprovada de 6 fontes entre o Largo do Chafariz de El-Rei e o largo
do Chafariz de Dentro, ao longo da Rua do Terreiro do Trigo; para além dos 2
chafarizes referenciados, fontes de água fria, existem 4 nascentes de água
quente: Alcaçarias de D. Clara (24º-28ºC), Alcaçarias do Baptista (32º a 34ºC),
Banhos do Doutor (27ºC) e as Alcaçarias do Duque (30ºC a 34ºC), sendo umas
bicarbonatadas calco-sódica e outra sulfúrea ou sulfurosa. Actualmente, as
nascentes encontram-se seladas e a água é aduzida para o Rio Tejo em condutas
de localização desconhecida.[36]
Algumas vozes se têm levantado nos
últimos anos, no sentido de aproveitamento destas águas para utilidades
diversas, o que não nos parece desprovido de sentido numa época em que a água
se tornou num bem a salvaguardar e num local que é um dos mais visitados pelo
turismo de Lisboa. Porém, a cidade tem-se desenvolvido de costas voltadas para
o rio Tejo ao invés de lhe aproveitar as margens e prefere construir locais
comerciais megalómanos em detrimento da preservação do seu património
histórico. Tomemos a liberdade de mais uma vez citar João Brandão de Buarcos, escutando
as suas palavras, com a vetusta idade de quinhentos anos, quando afirma “Agora digo eu mais, que parece
[in]consciência deixar perder a água que vai ao mar do Chafariz dos Cavalos e
de El-Rei, e das mais águas; antes, se deveriam aproveitar e repartir as águas
acima ditas (...)”[37]
[2]
Almunime Al-Himyari (1002 – 1085), fonte bibliográfica de Abu Al-Bakri no séc.
XI e Edrici no séc. XII, citados por António Borges Coelho, Portugal na Espanha Árabe, 3ª ed.
Caminho, Lisboa, 2008, p.47
[3]
José Pedro Machado, Ensaios arábico-portugueses,
Editorial Notícias, Lisboa, 1997, p. 255
[4] F.
Adolpho Coelho, Manual Etymologico da Lingua
Portugueza, 2º milhar, P.Plantier Editor, p. 64
[5] João
Brandão (de Buarcos), Grandeza e
abastança de Lisboa em 1552, Livros Horizonte, Lisboa, 1990, p. 103-104
[6]
A.Vieira da Silva, A Cerca Fernandina de
Lisboa, vol. II, Câmara Municipal de Lisboa, 1949, p. 103
[7]
Câmara Municipal de Lisboa, Águas Termais
da Alfama – Património Secular (Brochura de apoio à visita guiada
desenvolvida pelo Museu da Cidade em colaboração com a Direcção Geral de
Energia e Geologia e o Laboratório Nacional de Energia e Geologia), 2012
[8]
A.Vieira da Silva, A Cerca Fernandina de
Lisboa, vol. II, Câmara Municipal de Lisboa, 1949, p. 106
[9] Elsa
Cristina Ramalho e Maria Carla Lourenço, As
Águas de Alfama como património hidrogeológico de Lisboa, Instituto
Nacional de Engenharia, Tecnologia e Inovação, em http://www.lneg.pt/download/3822/39.pdf,
p. 1-2
[10]
Carlos Guardado da Silva, Lisboa Medieval
– a organização a e estruturação do espaço urbano, Lisboa, Edições Colibri,
2008, p. 86, p. 96
[11] http://www.aguas.ics.ul.pt/lisboa_alcacarias.html
[12] A.Vieira
da Silva, A Cerca Fernandina de Lisboa,
vol. II, Câmara Municipal de Lisboa, 1949, p. 108- 109
[13]
Câmara Municipal de Lisboa, Águas Termais
da Alfama – Património Secular (Brochura de apoio à visita guiada
desenvolvida pelo Museu da Cidade em colaboração com a Direcção Geral de
Energia e Geologia e o Laboratório Nacional de Energia e Geologia), 2012
[14] A.Vieira
da Silva, A Cerca Fernandina de Lisboa,
vol. II, Câmara Municipal de Lisboa, 1949, p. 114
[15] A.Vieira
da Silva, A Cerca Fernandina de Lisboa,
vol. II, Câmara Municipal de Lisboa, 1949, p. 111
[16] A.Vieira
da Silva, A Cerca Fernandina de Lisboa,
vol. II, Câmara Municipal de Lisboa, 1949, p. 115
[17]
Henriques, F. F. (1726) Aquilégio Medicinal, Edição fac-similada
de 1998. Instituto Geológico e Mineiro. Lisboa. p. 288, citado por Elsa
Cristina Ramalho e Maria Carla Lourenço, As
Águas de Alfama como património hidrogeológico de Lisboa, Instituto
Nacional de Engenharia, Tecnologia e Inovação, em http://www.lneg.pt/download/3822/39.pdf,
p.3
[18]
Júlio de Castilho, Lisboa Antiga –
Bairros Orientais, 2ª ed., vol. I, Câmara Municipal de Lisboa, 1935, p.
304-305
[19] Câmara
Municipal de Lisboa, Águas Termais da
Alfama – Património Secular (Brochura de apoio à visita guiada desenvolvida
pelo Museu da Cidade em colaboração com a Direcção Geral de Energia e Geologia
e o Laboratório Nacional de Energia e Geologia), 2012
[20]
Elsa Cristina Ramalho e Maria Carla Lourenço, As Águas de Alfama como património hidrogeológico de Lisboa,
Instituto Nacional de Engenharia, Tecnologia e Inovação, em http://www.lneg.pt/download/3822/39.pdf, p. 2-3
[21] A.Vieira
da Silva, A Cerca Fernandina de Lisboa,
vol. II, Câmara Municipal de Lisboa, 1949, p. 114
[22] A.Vieira
da Silva, A Cerca Fernandina de Lisboa,
vol. II, Câmara Municipal de Lisboa, 1949, p. 116- 117
[23] Câmara
Municipal de Lisboa, Águas Termais da
Alfama – Património Secular (Brochura de apoio à visita guiada desenvolvida
pelo Museu da Cidade em colaboração com a Direcção Geral de Energia e Geologia
e o Laboratório Nacional de Energia e Geologia), 2012
[24] Câmara
Municipal de Lisboa, Águas Termais da
Alfama – Património Secular (Brochura de apoio à visita guiada desenvolvida
pelo Museu da Cidade em colaboração com a Direcção Geral de Energia e Geologia
e o Laboratório Nacional de Energia e Geologia), 2012
[25] Júlio
de Castilho, A Ribeira de Lisboa, 2ª
ed., vol. I, Câmara Municipal de Lisboa, 1940, p. 234
[26] Júlio
de Castilho, A Ribeira de Lisboa, 2ª
ed., vol. I, Câmara Municipal de Lisboa, 1940, p. 234
[27] A.Vieira
da Silva, A Cerca Fernandina de Lisboa,
vol. II, Câmara Municipal de Lisboa, 1949, p. 114
[28]
Júlio de Castilho, Lisboa Antiga –
Bairros Orientais, 2ª ed., vol. I, Câmara Municipal de Lisboa, 1935, p. 302
[29] A.Vieira
da Silva, A Cerca Fernandina de Lisboa,
vol. II, Câmara Municipal de Lisboa, 1949, p. 114
[30]
Câmara Municipal de Lisboa, Águas Termais
da Alfama – Património Secular (Brochura de apoio à visita guiada
desenvolvida pelo Museu da Cidade em colaboração com a Direcção Geral de
Energia e Geologia e o Laboratório Nacional de Energia e Geologia), 2012
[31]
A. Vieira da Silva, A Cêrca Moura de
Lisboa, 2ª ed., Câmara Municipal de Lisboa, 1939, p. 152
[32] Júlio
de Castilho, A Ribeira de Lisboa, 2ª
ed., vol. II, Câmara Municipal de Lisboa, 1941, Nota nº 1, p. 237-238
[33] Câmara
Municipal de Lisboa, Águas Termais da
Alfama – Património Secular (Brochura de apoio à visita guiada desenvolvida
pelo Museu da Cidade em colaboração com a Direcção Geral de Energia e Geologia
e o Laboratório Nacional de Energia e Geologia), 2012
[34]
Damião de Góis, Descrição da Cidade de
Lisboa, 2ª ed., Livros Horizonte, 2001, p. 46
[35]
Câmara Municipal de Lisboa, Águas Termais
da Alfama – Património Secular (Brochura de apoio à visita guiada desenvolvida
pelo Museu da Cidade em colaboração com a Direcção Geral de Energia e Geologia
e o Laboratório Nacional de Energia e Geologia), 2012
[36]
Elsa Cristina Ramalho e Maria Carla Lourenço, As Águas de Alfama como património hidrogeológico de Lisboa,
Instituto Nacional de Engenharia, Tecnologia e Inovação, em http://www.lneg.pt/download/3822/39.pdf, p. 1-4
[37] João
Brandão (de Buarcos), Grandeza e
abastança de Lisboa em 1552, Livros Horizonte, Lisboa, 1990, p. 105
Muitíssimo interessante.
ResponderEliminarEspero que se possa reaproveitar as antigas nascentes, um dia.
Obrigada por comentar.
EliminarRealmente é pena estas águas não serem aproveitadas. Como diz, talvez um dia...
Do Brasil, meu abraço. Adorei sua pesquisa, muitíssimo interessante.ana
ResponderEliminarAna
EliminarDesculpe só responder agora, mas estive de férias. Obrigada por comentar. Fico muito satisfeita por o meu blog ter chegado ao Brasil.
Cristina
Um belíssimo trabalho! Grande proveito todos teremos com a sua leitura. Os mais sinceros parabéns.
ResponderEliminarAgradeço as amáveis palavras, que se tornam um estímulo para continuar. Bem haja!
EliminarEstimada Senhora,
ResponderEliminarImaginará que sou um "perseguidor" das coisas belas de Lisboa, mesmo que nem sempre estejam devidamente apresentáveis.
No meu blogue : http://retalhos-de-sintra.blogspot.pt/ faço, de vez em quando, a publicação de fotos ou factos lisboetas.
Sucede que o nosso comum Amigo João Cachado, depois de eu ter publicado um texto sobre a Fonte do Poeta, me alertou para o seu Blogue, que segui com o maior interesse.
Não sei se tem publicações também no Facebook - esse por vezes terrível labirinto de opiniões - mas se tiver gostaria de poder acompanhar como seu amigo.
Entretanto, vou acompanhando o seu blogue.
Com os melhores cumprimentos,
Fernando Castelo
Nota: Sobre a Alcaçarias, ainda hoje irei publicar um texto, já que fazia parte de um programa há vários meses estabelecido e que, por estar ausente do país, nem sempre consigo dar seguimento.
Palavras de apoio são sempre bem-vindas! Não conheço o seu blog, mas tratarei de conhecer, certamente!
EliminarA minha página no Facebook é mais reservada a pensamentos pessoais e inter-relação com amigos; os estudos sobre Lisboa estão centrados neste blog.
Embora não seja meu hábito aceitar amigos no FB que não conheça pessoalmente, pontualmente abro excepções. Vou tentar encontrá-lo.
Obrigada pelo apoio!
Fantástico! Só falta acrescentar a pintura do século XVI com o Chafariz d'El-Rei, que é belíssima.
ResponderEliminarCaro Anónimo
EliminarObrigada pela mensagem. Esclareço que todas as imagens presentes neste blog são fotografias da minha autoria, pois respeito os direitos de autor; poderão surgir fotos colhidas dentro de museus ou monumentos, mas que foram tiradas com a devida autorização. Há inúmeras imagens interessantíssimas que circulam na internet, que poderiam ser utilizadas e são-no em muitos blogs, mas, do meu ponto de vista, este blog é na totalidade produto do meu trabalho e não de trabalhos alheios. Fica a explicação. Cumprimentos e espero que continue a consultar e comentar o blog.
Encontrei, por acaso, este seu interessantíssimo trabalho, e quero pedi licença para uma pergunta. Como sabe, os judeus, e sobretudo as judias, têm necessidade de utilizar banhos de imersão de água natural (não canalizada) para os seus banhos rituais. Desde o regresso dos judeus a Portugal, no século XIX, durante muitos anos não houve banhos rituais judaicos em Lisboa. Actualmente há um balneário ritual (miqueve) na sinagoga de Lisboa. No entanto, lembro-me de ter lido uma vez uma carta de um judeu de Lisboa, para a direcção da Comunidade, reclamando por esta não fazer nada para a boa conservação do miqueve nas Alcáçovas. Estou a falar da primeira metade do século XX. Tem alguma ideia desta utilização e aonde? Perguntei uma vez a uma filha deste senhor e ela disse-me que ela e a mãe iam a um balneário em S. Paulo. O meu endereço de email é inacio@steinhardts.com
ResponderEliminarOnde escrevi "Alcáçovas" queria escrever "Alcaçarias".
ResponderEliminarPeço desculpa.
Caro Inácio
EliminarAté à data não encontrei referência à existência de qualquer miqueve nas Alcaçarias de Lisboa. Enviei-lhe por via de mail algumas informações mais detalhadas. Será sempre um interessantíssimo assunto a estudar, se encontrar fontes bibliográficas fidedignas, mas não tem sido possível.
Bem haja pelo comentário, que aumentou o meu saber! Obrigada!
Ola, já tinha assistido e apreciado a comunicação na SGL, e igualmente gostei da pagina - parabens! estou agora em busca do que poderão ter sido os banhos terapeuticos em alfama antes e depois do pogrom de 1605...
ResponderEliminarobrigada
desculpe a gralha, obviamente é 1506
EliminarCara Cristiana Barros
ResponderEliminarAgradeço ter comentado neste blog e ter assistido à minha comunicação na Sociedade de Geografia de Lisboa.
Não compreendi, porém a relação que faz entre o massacre dos judeus em Lisboa em 1506 e os banhos terapêuticos da Alfama, pois parece-me que são pedaços de história sem relação directa entre si.
Bem haja por ter consultado este blog. Obrigada!
Hoje fiz um passeio muito interessante, Lisboa Judaica, no ambito do romance " O Ultimo Cabalista de Lisboa" e agora encontrei o seu Blog, está a ser um dia de descobertas, obrigado também! Otelo lapa
ResponderEliminarMuito obrigada pela sua participação neste blog. Espero que as descobertas continuem.
EliminarBenvindo ao Blog!
Depois de visitor as Fontes e Alcaçarias de Alfama no domingo passado tenho que dizer que, o operador que nos acompanhou deve ter lido o seu blog eheheh. MUITO interessante de facto! Agradecida
ResponderEliminarRaffaella
Cara Raffaella
ResponderEliminarOs factos que relato constam da bibliografia geral da História de Lisboa, pelo que imagino que muita gente os conhece. Não sei quem organizou a sua visita no passado Domingo, mas deve ser alguém que também estudou o assunto.
Obrigada por ter visitado o blog! Benvinda!
Só agora tive acesso. Parabéns por este trabalho/pesquisa. Muito interessante
ResponderEliminarCara Maria Pinto
ResponderEliminarMuito obrigada pelas estimulantes palavras! Benvinda ao blog!
Fascinante! Precisamos de ver este património recuperado e visitável.L.
ResponderEliminarEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarBoa Noite, Cristina.
ResponderEliminarDesde já os meus parabéns pela belíssima, aliás nobilíssima, pesquisa que fez.
Moro em Alfama faz quase 8 anos, mais precisamente em plena Rua do Terreiro do Trigo, num dos prédios adjacentes às antigas Alcaçarias do Duque do Cadaval. Quando me mudei para onde moro, (apesar dos tempos que correm de megalomanismo imobiliário, ainda moro no mesmo lugar, não sei bem como) tratei de fazer um levantamento histórico do Chafariz dos Cavalos, Chafariz do Largo de Dentro, por achar inconcebível e chocante a ideia de o terem inutilizado|vedado ao público. A resposta que recebi por parte da Câmara Municipal de Lisboa ocupava umas meras 3 linhas face o longo trabalho que tive - "(...) o que nos pede está fora das nossas possibilidades."
Bom, como deverá saber, hoje esta encontra-se recentemente activada. Não sei bem por que águas, ignorância minha, mas depreendo que não por nenhumas das afamadas águas milagrosas.
Estendi-me demasiado no comentário, mas a intenção foi maioritariamente louvar o seu artigo.
(Teria muito mais para 'falar', mas por agora fico-me por aqui.)
Com os melhores cumprimentos,
Ricardo Alas
Caro Ricardo Alas
ResponderEliminarAgradeço as simpáticas palavras do seu comentário.
De facto, o Chafariz de Dentro foi reabilitado, pelo menos no seu exterior; a única vez que visitei o interior, estava num estado deplorável; desconheço se também o reabilitaram na mesma altura que o exterior e desconheço se estão a aproveitar a água da nascente.
Pode sempre continuar a "falar", gosto de comunicar com os leitores do blog
Cristina
Ver Regulamento publicado pela Portaria de 17/07/1901, para o estabelecimento hidroterápico denominado Alcaçarias - Rua do Terreiro do Trigo - Lisboa. Não vi esta referência na bibliografia.
ResponderEliminarObrigado pela excelente informação
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